A tristeza submersa
Tinha a porta da casa aberta, naqueles dias em que se esgotava o tempo para a inundação, quem passava na rua da aldeia olhava para dentro da casa e alguns entravam numa avidez de tudo guardar no olhar antes da devastação que não tardaria.
Respondia a perguntas dos visitantes desconhecidos, quase sempre monossílabos de circunstância, com a resignação de quem conhece o desengano e nada espera senão a catástrofe anunciada.
As lágrimas furtivas que de quando em vez secava com o lenço sempre na mão, eram a prelúdio do esperado dilúvio, iam afundar-lhe a Terra, iam alagar-lhe a casa, iam afogar-lhe a vida!
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