Advinhava-me de mala feita para lugar nenhum, presa aos mecanismos da partida, sem coragem para partir o imenso vidro que nos rodeia, a infinita vitrine em que estamos expostos.
Amanhã irei, concerteza irei, de boca pintada e cabelo enrolado, sem fragilidade nos pés ou na determinação, com a mala cheia de pequenas mudas de roupa e de vida, rumo à cidade, às vitrines alheias, à fantástica exposição feita de nós todos.
O meu sonho era falar, dizer em pequena frases essa caminhada urbana, exclamar com força como me espantam os meus olhos estampados nos meus olhos na montra, como me espanta o pó de estar sempre à mostra, como me espanta ser articulada, como me espanta não poder sair daqui e nem sequer ter mala para quem sabe um dia.
Susana Palmerston
(texto escrito para esta foto)
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